sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CEMITÉRIO MALDITO


"Mamãe eu trouxe algo pra você!"

Durante mais da metade da minha vida , morei em frente a uma rodovia (BR 316), e esse filme me abalou suficientemente para nutrir um certo respeito pela estrada. Vários pets, bichinhos de estimação, da nossa família tiveram o seu fim pregados na pista como o gato Church do filme, presenciei acidentes, vi um homem ser levantado da bicleta por uma caminhonete que foi buscá-lo no acostamento, quebrar o pescoço e morrer na hora. Não corria para ver acidentes, mas cansei de ver o pinche manchado de sangue quando ia de bicicleta para escola. Quando meus sobrinhos chegaram e eu ainda morava lá, a imagem do pequeno Gage sendo atropelado era o que me fazia conferir sempre se o portão estava fechado e segurar bem forte suas mãos ao atravessar aquela maldita estrada. Andei muito de bicicleta por aquela pista, vinha da casa da namorada às 3, 4 horas da madrugada. Depois, no tempo da Universidade, vinha às 10, 11 horas por um trecho de quase um quilômetro sem enchergar nem um palmo a frente: só eu e o meu medo. É por isso que "Cemitério Maldito" é um dos poucos filmes que realmente me assustaram e me assustam. Revendo o filme, sinto até uma certa indignação por Stephen King ter criado uma história em que um bebê tem que morrer, chega a ser repugnante o fato de alguém querer filmar isso. Mas o suspense é aqui magistralmente construído e você não cosegue deixar de justificar esteticamente a coisa. O que mete medo em "Cemitério Maldito" não são os sustos que o gato ressuscitado vive provocando no protagonista, mas a tensão (a espera como diz Hithcock) criada a partir da primeira cena em que a felicidade daquela doce família é posta ao lado daquele monstro cego que é a rodovia. É justo uma criança morrer de forma tão brutal e absurda, por mero acaso? A morte é justa? Existe uma hora certa para alguém morrer ou ter que lidar com a morte de um ser amado? O velho vizinho sabe que o gato não retornará o mesmo dos mortos, que ele se tornará maligno, mas não consegue suportar a idéia de ver a pequena Ellie lidando tão cedo com a morte. Louis sabe que seu filho provavelmente não será mais o mesmo, mas não consegue evitar de enterrá-lo no cemitério dos índios porque ele lhe foi tirado cedo demais e de forma insensata, sua morte não teve sentido. Ele não consegue evitar de fazer o mesmo uma terceira vez. E outra coisa que me deixava de cabelo em pé era perceber que eu faria o mesmo que ele, que suas ações são totalmente compreensíveis. Se houvesse como trazer os mortos de volta à vida, nós nos arriscaríamos a agir como Louis, ainda que houvesse uma grande probabilidade de eles não serem mais os mesmos. Ele é avisado desde o início pelo fantasma do garoto atropelado que suas ações só traram mais sofrimento para todos. O que dá medo é perceber pelo filme que não sabemos lidar com a morte, não sabemos aceitá-la ou que pelo menos não é nada muito fácil. E é aí que o filme me atinge, pois me obriga a aprender a lidar com a morte. É possível, só não é fácil.

4 comentários:

  1. carissimo, allan

    é com muita felicidade que comento aqui em seu espaço, gostei da tematica e da proposta do blog de cara! muito me define..ainda mais que iniciou teu trabalho com os textos falando de Goonies - marcou minha infancia!

    adorei o visual tambem, te seguirei aqui e linko ao meu blog, abs

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  2. Valeu, Cristiano!! Agradeço teus comentários! Já conferi o teu blog e também achei ótima tua proposta. O meu espaço ainda é bem experimental, estou com pouco tempo para atualizá-lo, mas com certeza pretendo incrementar mais a coisa. Grande abraço!!

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  3. Valeu, Victor!! Bom, a proposta do blog é justamente tentar mostrar qual o valor dos (bons) filmes "medianos", como "Vermes malditos" (Tremors). Abraço!

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