quarta-feira, 27 de maio de 2009

CURTINDO A VIDA ADOIDADO


"SALVE FERRIS!"

Curtindo a vida adoidado é um manual, um hino, um símbolo do desfrute da vida. "Uma comédia adolescente? Mas que conteúdo isso poderia ter?", poderiam perguntar os "verossímeis", como ironizava Hitchcock. A questão é que nem todo o "conteúdo" da vida cabe em uma forma discursiva, racional, lógica. Há certas "verdades" que só podem ser comunicadas e experimentadas mediante uma apresentação simbólica, plástica, intuitiva. Ao "gazetarmos" aula junto com Ferris (Matthew Broderick) para desfrutar um dia de sol junto com seu melhor amigo Cameron (Alan Ruck) e sua namorada Sloane (Mia Sara), no último ano do colegial, não estamos "aprendendo" a ser irresponsáveis, a fugir das obrigações, a enganarmos nossos pais, estamos intuindo, experenciado, que a vida merece ser vivida, que precisamos fazê-la ter sentido, que o tempo é curto, mas eternos são os momentos em que escolhemos a vida, em que apostamos nela, em que a abraçamos. Podemos viver sempre coagidos, presos, limitados, forçados, quando a vida mesma se torna uma obrigação, um fardo, algo que nos foi imposto. Contudo, quando se diz Sim a vida, quando se escolhe viver, então estamos livres para torná-la nossa e darmos um sentido a ela. "Salve Ferris!", diz um aluno do colégio que pede um donativo à irmã do boa vida (Jennifer Grey), para dar um novo fígado a Ferris. Jeanie se enfurece, faz de tudo para sabotar os planos do irmão. Ela não aceita que ele se dê bem, na verdade, ela não entende, não compreende a atitude do irmão, revolta-se com sua alegria, felicidade, por ele ter encontrado o seu lugar no mundo. Jeanie se sente deslocada, presa em sua própria vida, ela não vê sentido em "curtir a vida", seu maior prazer seria provar isso a si mesma convencendo o irmão ao fazê-lo fracassar, mostrando que ele está errado. Jeanie é a intolerância dos que não se amam. Ferris não passa por um grande processo de descoberta, amadurecimento e aprendizagem no filme, como acontece normalmente em uma saga heróica, é sobretudo Cameron e Jeanie que passam por isso. Jeanie consegue compartilhar a visão do irmão ao conhecer um rapaz na delegacia (Charlie Sheen) que lhe indaga: que problema ela vê no que o irmão faz, ele faz mal a alguém, prejudicou ela de alguma maneira? Ela reflete sobre isso, mas não é por refletir que ela se transforma, mas por encontrar um lugar para si no mundo, por passar a gostar de si própria. Cameron é com certeza o personagem ao redor do qual a história se desenvolve, hipocondríaco, obessessivo com a figura do pai, que não consegue compreender, não sabendo como encará-lo, como enfrentá-lo, mas é finalmente ao destruir aquilo que ele afirma que o pai mais ama no final do filme que ele ganha a coragem necessária para assumir sua independência frente ao mesmo, e escolher a vida, assumí-la como sua. Mas e Ferris? Ferris já sabe o que quer e nos mostra como podemos vir a saber também!!

terça-feira, 19 de maio de 2009

OS GOONIES


"NEVER SAY DIE!"

Mama Fratelli: "Conte tudo!!! Tudo!!!"
Bolão: "Tá bom! Eu falo! Na terceira série, eu colei n
a prova de história. Na quarta-série, eu roubei a peruca do meu tio e colei na cara pra fazer o papel de Moisés na peça da escola. Na quinta série, empurrei minha irmã da escada e culpei o cachorro... Quando minha mãe me mandou para o acampamento para gordinhos, na hora do almoço eu cuspi tudo e fui mandado embora... mas a pior coisa que já fiz foi quando misturei vomito falso em casa, levei escondido ao cinema, subi nos camarotes e aí fiz um barulho tipo - blearrrrrgh, bleaaaaaargh - e joguei lá embaixo sobre as pessoas na platéia. Foi horrível, todas as pessoas enjoaram e começaram a vomitar umas em cima das outras... Eu nunca me senti tão mal em toda a minha vida!!!"
Mama Fratelli: "Estou começando a gostar desse garoto!"

Para alguns filósofos, cinema não é arte, e sim um produto. Para outros, é necessário distinguir um bem cultural de um bem de consumo. Por conta disso, alguns fazem uma distinção entre a verdadeira e autêntica sétima arte, aquela que realmente consegue exprimir algo, ou comunicar sentimentos, ou pensar e refletir o mundo, ou criticar a realidade, ou transfigurar a vida, e aquele produto da indústria de entretenimentos, que serve apenas para divertir, distrair, relaxar, aliviar o fardo do nosso tumultuado e conturbado dia a dia, preencher as horas vagas entre o trabalho, as obrigações e os afazeres domésticos. Como se os mecanismos de poder dissessem: "você deve trabalhar, sacrificar-se, oferecer seu sangue pelo mercado, mas sei que a distração é necessária para sua sobrevivência, então use o dinheiro que eu lhe pago para consumir isto que lhe ofereço: Hollywood, blockbusters, filmes de ação, comédias inofensivas, filmes de heróis, pornografia, etc". O espectador "médio", em tal visão, consome filmes, ele alimenta sua necessidade de diversão com os produtos de mass media, geralmente identificados como partes da cultura pop. Esse expectador vê um filme apenas uma única vez, ele não estabelece nenhuma vínculo espiritual com o filme, o filme não tem para ele nenhum valor artístico, nenhuma "aura", nenhum poder de permanência, como deve ter a verdadeira arte. Mas, se é assim, como explicar que um filme como Os Goonies, produzido por Steven Spielberg e dirigido por Richard Donner, lançado em 1985, possa ainda exercer uma impressão tão forte em mim? Mais ainda, como explicar que uma criança de seus 9, 10, 11, 12, 13 e por aí vai, prefira abandonar suas brincadeiras, não o seu tempo livre, mas seus momentos de descobertas, os momentos que lhe pertencem propriamente enquanto criança, assim como o ócio é o que pertence propriamente ao homem, para passar boa parte da tarde em frente à televisão vendo um produto de entretenimento? Como um bem de consumo pode deixar uma marca tão indelével no espírito de uma criança atravessando mesmo sua vida adulta? O filme é uma verdadeira jornada de herói, os limiares, os desafios, o monstro que revela ter a alma de um gentil princípe, a fonte dos desejos, a caverna. Como não compartilhar o deslumbramento dos garotos diante do tesouro de Willie Caolho e o respeito pelo esqueleto do velho pirata. A fuga com bicicletas, a batalha com os vilões, o despertar da irresistível atração sexual, e, sobretudo, a força da amizade!!! Os goonies falaram comigo, éramos amigos! Filmes como Os Goonies fizeram minha história! Não foram e não são meramente consumidos por mim como bens de consumo. Eles me ofereceram uma maneira de me envolver com o mundo, de me localizar ante a realidade, de me posicionar frente as coisas, de desfrutar a vida! O filme Os Goonies me fez experienciar o significado da cobiça, os perigos da aventura, o valor do tesouro no fim da jornada de cada um, o poder da amizade, os mistérios que cercam a figura feminina. Não sei se a molecada de hoje acharia muita graça no filme, mas o fato é que foi uma experiência marcante para mim... e é um filme pop. Produto da indústria cultural ou de entretenimento? Que seja. Para mim, bons filmes são aqueles que me atingem.



Recentemente a revista Première fez aniversário e resolveu chamar atores e realizadores do filme para um encontro. Qual não foi minha surpresa quando descobri que Mickey foi interpretado por Sean Austin, o Sam Gangi da trilogia O Senhor dos Anéis, ou seja, descobri que o cara trabalhou nos dois filmes mais marcantes para minha vida. Sean também atuou na 5º temporada de 24 horas (Jack Bauer) e junto com Adam Sandler em Como se fosse a primeira vez e Click (os dois melhores filmes de Adan Sandler). Também não fazia idéia que o diretor era Richard Donner, o cara que fez A profecia, Superman 1 (e mais ou menos o 2), O Feitiço de Áquila e os quatro Máquina Mórtifera (só clássicos). Já desconfiava que Bocão, Corey Feldman, era o mesmo moleque, dublado com uma voz muito engraçado, do Conta Comigo e os Garotos Perdidos (que recentemente teve uma continuação estrelada por ele, e lançada diretamente em DVD aqui no Brasil), mas ele também fez Licença para dirigir, um Sexta Feira 13 (Capítulo Final) e Gremlins (clássicos, clássicos!!). O Data (ou Dado) atuou ao lado de Harrison Ford em Indiana Jones e o Templo da Perdição (sei que ninguém concorda, mas é o meu Indiana preferido). Nem sabia que havia qualquer participação de Spielberg (que criou e produziu a história), ou que o roteiro era de Chris Columbus, que também assinou por Os Gremlins e dirigiu Esqueceram de mim 1 e 2, os dois primeiros Harry Potters e o Homem Bicentenário. Também fiquei espantado em saber que o irmão mais velho de Mickey foi interpretado por Josh Brolin que atualmente só tem feito filmes bacanas: Planet Terror, Onde os fracos não tem vez, Milk e W. Essas informações só aumentaram minha admiração pelo filme e por seus realizadores.